PT é acusado de racismo e transfobia ao impedir candidatura de trans negra à presidência da legenda

Comissão interna da sigla anulou inscrição de Dani Nunes, mesmo após cumprimento do regulamento

O Partido dos Trabalhadores (PT) está no centro de uma nova controvérsia após barrar a candidatura da turismóloga Dani Nunes à presidência nacional da legenda. Negra, transexual e moradora da zona oeste do Rio de Janeiro, Dani afirma ter sido vítima de racismo e transfobia por parte da cúpula petista, que teria agido de forma arbitrária para excluí-la da disputa.

Anulação de candidatura expõe brecha no regulamento partidário

Segundo o regulamento eleitoral do PT, qualquer candidatura precisa de pelo menos cinco assinaturas de membros do Diretório Nacional. Dani alcançou esse número. No entanto, uma das assinaturas foi retirada após o prazo oficial de inscrição. A comissão organizadora, contrariando o espírito do regulamento, considerou a retirada válida e anulou a candidatura.

Dani recorreu, afirmando que a decisão fere o princípio da boa-fé e a própria lógica democrática da legenda. “Meu chão ruiu”, declarou. “Fui pega de surpresa depois de uma conquista histórica. Nunca imaginei que uma atitude individual pudesse invalidar toda uma trajetória de luta.”

Militante compara episódio a caso de ministra negra barrada no TSE

Ao comentar o caso, Dani comparou sua situação com a vivida recentemente pela ministra Vera Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), impedida de entrar em um evento da Presidência da República onde seria palestrante. A ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, classificou o ocorrido como racismo.

“Me vi nela, com o mesmo olhar distante e impotente. Só que, no meu caso, o ataque veio de onde menos esperava: de dentro do próprio partido que se diz defensor das minorias”, declarou Dani. Ela disse ter recebido apoio de negros, indígenas, LGBTQIAs e antirracistas, que repudiaram o que classificam como exclusão institucionalizada.

Corrente interna do partido denuncia exclusão e fala em eleição sem diversidade

A corrente Raízes do PT, da qual Dani faz parte, emitiu nota na sexta-feira (23) repudiando a decisão da comissão. O grupo chamou a exclusão de “arbitrária e injusta” e reforçou a acusação de violência política de gênero e raça.

A nota também critica o fato de que, com a saída de Dani, a eleição segue com apenas quatro homens brancos na disputa. Para os militantes da corrente, o caso revela como o PT ainda reproduz desigualdades internas, apesar do discurso de inclusão social e diversidade.

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